delírios em palavras
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Ele foi covarde. Ele foi incapaz de desculpas, explicações e promessas. Ele foi covarde simplesmente porque não admitiu o erro, não voltou, não foi além. Ele não se permitiu tentar, não se permitiu entender a si mesmo. Ele quer o mundo pra ele, ele desperdiça chances, ele acha que tem todos. Ele acabará sozinho. Suas indecisões bloqueiam o caminho, esconde as opções antes tão desejadas. Ele foi covarde, ele terminou sem nem começar. Ele prometeu e não cumpriu. Ele falou e ficou surdo. Ele foi covarde e ela acreditava que a coragem viria depois. A coragem não vem depois, ela vem antes ou não vem. Foi covarde por falar repetidos sim, sem perceber as consequencias. Ele não mediu a força das palavras, a intensidade dos atos, a possibilidade de enganar e iludir. Ele não pensou, não teve consideração, ele foi fraco. Ele se tornou aquele que deveria ter sido, mas não foi. O morto que não foi enterrado, o que desapareceu permanecendo por perto e assombrando. Ele foi covarde a ponto de despertar nela raiva, vontade de se retirar, de se calar ou de nem sequer ouvir. Ele ainda é covarde porque não admite erros, não entrega o arrependimento, quer dividir a culpa. Ele tem esperança de que ela volte, ela sempre volta. Não dessa vez, sua covardia mudou os hábitos dela. Sua covardia provocou saudades nele. ''Saudades são violentas quando mudamos de endereço; saudades são insuportáveis quando mudamos de sentido''. Mas ela é forte, ela encara, ela sabe seguir em frente. Enquanto agora ele se remoe em dúvidas, arrependimentos não assumidos, atos não conquistados, ele se consome em incapacidades. Ele confundiu covardia com sacríficio. Ele não sabe mentir, nem tampouco dizer a verdade. Ele apenas diz, e com tantas palavras e apenas palavras a conquistou. Conquistou de modo a fazê-la amar sua covardia. Talvez seja o que restou dele nela.
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