delírios em palavras
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Não sei mais escrever
Não sei mais escrever. É estranho. Não sei se é o tempo que passou, ou a fase que acabou, ou a vida que mudou. As palavras não se encaixam, a sintonia não acontece, a espontaneidade desapareceu. É estranho. As palavras escritas não servem, não transmitem, não traduzem mais. Não sei mais escrever. É como se a escuta tivesse anulado a capacidade de expressar o que absorvo. É como se tivesse inundada de palavras que não são minhas, palavras que me são direcionadas, palavras que são engolidas. É como se falar substituísse escrever. Ou fosse mais preciso do que escrever. Ou mais certo. Mas não tão bonito quanto a poeticidade carregada na escrita. É estranho. Não sei mais escrever. As palavras me foram roubadas, a escuta e a voz me levaram o abismo que existe entre o escutar e o dizer: a escrita. A criatividade e a criação foram perdidas, foram deixadas, foram submetidas. Não sou mais poeta. Não sei mais brincar de escrever. E a escrita é como a brincadeira: se for levada à sério, perde a graça.
Não me pede
Não me pede pra ser oito, se meu mínimo é oitenta;
Não me pede pra calar, se a voz que me sustenta.
Não me pede pra ser calma, se minha essência é a inquietude;
E não fica aí parado, porque o que eu prezo é atitude.
Não me pede para parar, se me movo por ansiedade;
Não me pede pra ser sincera, porque eu falo a verdade.
Não me pede pra ser tranquila, se eu só vivo de amor;
Não me pede pra ser chuva, porque eu vivo de calor.
Não me pede pra ser cinza, porque eu sou todas as cores;
Não me pede pra ser uma, se sou feita de amores.
Não me pede pra ser tua, se não for meu por inteiro;
E nunca diga ‘para sempre’ se não for verdadeiro.
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