delírios em palavras



terça-feira, 15 de outubro de 2013

ele foi covarde



Ele foi covarde. Ele foi incapaz de mensurar as consequências. Ele foi covarde. Ele não conseguiu perceber os erros e não teve disposição para corrigi-los. Ele foi covarde. Ele negou, ele enganou, ele mentiu. Ele não assumiu que não tinha condições de suportar um amor. Ele não soube amar. Ele amou tanto que se perdeu quando tudo pareceu se perder. E acabou te perdendo. Ele foi covarde. Ele se afastou sem ir embora, ele se ocultou estando presente, ele desperdiçou o presente que havia em suas mãos. Ele foi covarde. Ele prometeu e não cumpriu, ele falou e ficou surdo, ele ficou cego para suportar o insuportável. Ele foi covarde. Ele falou repetidos sim, insistiu chances, implorou perdões. Tu acreditavas que a coragem viria depois. Tu acreditavas que ele ia mudar. Tu acreditavas. Eu assisti tudo. Eu assisti ao teu esforço para acreditar. Eu assisti às tuas lágrimas e desespero. Eu assisti à tua coragem em acreditar. Sempre acreditar. Ele foi covarde. Ele foi tão covarde que despertou raiva em ti, vontade de se retirar, de se calar e nem sequer ouvir.  Ele tem esperança de que tu voltes. Tu sempre voltas. Não dessa vez. Sua covardia mudou teus hábitos. Sua covardia provocou ódio e orgulho em ti. Sua covardia inclusive te fez sentir-se auto-suficiente, capaz de ser. A covardia gera saudades nele. ''Saudades são violentas quando mudamos de endereço; saudades são insuportáveis quando mudamos de sentido''. Mas tu és forte, tu encaras, tu sabes seguir em frente. Eu acredito na tua coragem. Eu vou te dar a coragem necessária. Eu vou de mãos dadas contigo. Enquanto ele irá se remoer em dúvidas, arrependimentos não assumidos, ele irá se consumir em incapacidades. Ele confundiu covardia com sacrifício. Ele não soube mentir, nem tampouco dizer a verdade. Ele apenas disse, e com tantas palavras e apenas palavras te conquistou. Conquistou de modo a te fazer amar sua covardia. Talvez seja o que restou dele em ti. Se é que alguma coisa restou.

domingo, 29 de setembro de 2013

Não sei mais escrever



Não sei escrever quando tu me amas. Não sei; as palavras faltam, a inspiração falha, o pensamento pára. Não sei escrever quando tu me amas. O mundo gira devagar e eu perco o ritmo; sem fôlego, não alcanço o passo. Não consigo mais escrever. Eu juro, eu tento, eu me esforço, eu busco e procuro palavras, mas elas não sustentam o que eu sinto. Talvez eu tenha esquecido, talvez eu tenha desaprendido, talvez eu tenha me iludido e te iludido quanto à minha performance com a arte. Mas eu não sei escrever quando tu me amas. Talvez nunca havia me permitido, ou tampouco percebido essa paz que tu tem transmitido, que transforma nosso amor em sentido. Não sei escrever quando tu me amas. Na verdade, nunca mais consegui escrever. Talvez tu me ames o tempo inteiro ou teu amor está instituído no meu roteiro. Mas por favor, não entenda como uma reclamação. Prefiro perder todas as palavras a perder teu coração.